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Feocromocitoma em cães: Uma Visão Abrangente do Tumor Adrenal Misterioso

Imagem de Mali por Pixabay

O que é feocromocitoma em cães?

Feocromocitoma é um tumor raro que se origina das células cromafins da medula adrenal. Essas células são responsáveis pela síntese e secreção das catecolaminas epinefrina e norepinefrina, que são hormônios que regulam a resposta ao estresse, a pressão arterial, a frequência cardíaca e outras funções vitais. Quando essas células se tornam cancerosas, elas podem produzir quantidades excessivas de catecolaminas, causando sintomas graves e potencialmente fatais nos cães afetados.

Qual é a epidemiologia do feocromocitoma em cães?

O feocromocitoma é considerado um tumor endócrino incomum em cães, mas pode estar subdiagnosticado devido à sua natureza inespecífica e intermitente. Não há uma predisposição de raça ou sexo para o desenvolvimento desse tumor, mas ele tende a ocorrer em cães mais velhos, com uma idade média de 10 anos. O feocromocitoma geralmente afeta apenas uma glândula adrenal, mas pode ser bilateral em até 10% dos casos. Além disso, o tumor pode ser localmente invasivo, comprometendo os vasos sanguíneos adjacentes, como a veia cava caudal e a artéria renal, e pode metastatizar para outros órgãos, como o fígado, o baço, os pulmões e os linfonodos.

Qual é a etiologia do feocromocitoma em cães?

A causa exata do feocromocitoma em cães é desconhecida, mas alguns fatores genéticos e ambientais podem estar envolvidos. Alguns estudos sugerem que mutações em genes que regulam o crescimento e a diferenciação celular, como o RET, o NF1 e o VHL, podem predispor os cães ao desenvolvimento de feocromocitoma. Outros estudos indicam que a exposição a agentes químicos ou físicos que danificam o DNA das células cromafins, como radiação ionizante ou drogas citotóxicas, pode aumentar o risco de feocromocitoma.

Como é feito o diagnóstico do feocromocitoma em cães?

O diagnóstico do feocromocitoma em cães é desafiador, pois os sinais clínicos são variáveis e dependem da quantidade e do tipo de catecolamina secretada pelo tumor. Alguns cães podem ser assintomáticos ou apresentar sinais discretos, como perda de peso, anorexia, letargia e fraqueza. Outros cães podem ter crises paroxísticas de hipertensão, taquicardia, arritmias cardíacas, dispneia, colapso e convulsões. Essas crises podem ser desencadeadas por estresse, exercício, manipulação abdominal ou anestesia.

O diagnóstico do feocromocitoma em cães requer uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem. O exame físico pode revelar midríase, palidez ou rubor das mucosas, pulso rápido e irregular, sopros cardíacos e aumento da pressão arterial sistólica. O hemograma pode mostrar anemia normocítica normocrômica ou policitemia relativa. A bioquímica sérica pode evidenciar hiperglicemia, hipercolesterolemia e aumento das enzimas hepáticas. A urinálise pode detectar proteinúria e glicosúria.

O exame mais específico para o diagnóstico do feocromocitoma em cães é a dosagem das catecolaminas e seus metabólitos (metanefrinas) na urina ou no plasma. Valores elevados dessas substâncias indicam uma produção excessiva pelas células tumorais. No entanto, esse exame nem sempre está disponível nos laboratórios veterinários e requer um manejo cuidadoso das amostras para evitar falsos negativos ou positivos.

Os exames de imagem são essenciais para confirmar a presença de uma massa adrenal e avaliar sua extensão e possíveis metástases. A ultrassonografia abdominal é um método simples e não invasivo que pode identificar uma massa adrenal em até 80% dos casos de feocromocitoma em cães. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são métodos mais sensíveis e específicos que permitem uma melhor caracterização da massa adrenal, sua relação com os vasos sanguíneos e a presença de metástases. A cintilografia com metaiodobenzilguanidina (MIBG) é um exame que utiliza um radiofármaco que se liga às células cromafins e permite a localização de feocromocitomas primários e secundários. No entanto, esse exame é caro e requer equipamentos especiais.

Diagnóstico definitivo do feocromocitoma em cães ?

O diagnóstico definitivo do feocromocitoma em cães é feito pela histopatologia da massa adrenal, que mostra células neoplásicas poligonais, com citoplasma eosinofílico granular e núcleos hipercromáticos, arranjadas em ninhos ou cordões, separadas por estroma fibrovascular. A imuno-histoquímica pode ser usada para confirmar a origem cromafin das células tumorais, pela expressão de marcadores como a cromogranina A, a sinaptofisina e a tirosina hidroxilase.

Qual é o tratamento do feocromocitoma em cães?

O tratamento de escolha para o feocromocitoma em cães é a remoção cirúrgica da massa adrenal, que pode proporcionar uma cura ou uma melhora significativa dos sinais clínicos. No entanto, a cirurgia é um procedimento de alto risco, pois pode desencadear crises hipertensivas, hemorragias, tromboembolismos e arritmias cardíacas. Por isso, é necessário um preparo pré-operatório adequado, com o uso de medicamentos que bloqueiam os receptores adrenérgicos alfa e beta, como a fenoxibenzamina e o propranolol, respectivamente. Esses medicamentos devem ser administrados por pelo menos uma semana antes da cirurgia e mantidos até o pós-operatório. Além disso, é recomendado o uso de fluidoterapia intravenosa, monitorização hemodinâmica e anestesia balanceada.

A taxa de sucesso da cirurgia depende do tamanho, da localização e da invasão vascular da massa adrenal, bem como da presença ou não de metástases. Em geral, os cães com feocromocitomas unilaterais, pequenos e não invasivos têm um prognóstico melhor do que os cães com feocromocitomas bilaterais, grandes e invasivos. A sobrevida média após a cirurgia varia de 6 a 36 meses.

Nos casos em que a cirurgia não é possível ou não é suficiente para controlar o tumor, podem ser usadas outras modalidades terapêuticas, como a quimioterapia, a radioterapia ou a embolização arterial. No entanto, esses métodos são menos eficazes e têm mais efeitos colaterais do que a cirurgia. A quimioterapia pode ser feita com agentes alquilantes, como o clorambucil ou o ciclofosfamida, ou com inibidores da tirosina quinase, como o toceranibe ou o masitinibe. A radioterapia pode ser usada para reduzir o tamanho do tumor ou aliviar os sintomas das metástases. A embolização arterial consiste na injeção de partículas que obstruem o fluxo sanguíneo para o tumor, causando sua isquemia e necrose.

O tratamento sintomático do feocromocitoma em cães visa controlar as crises hipertensivas e as arritmias cardíacas com medicamentos anti-hipertensivos e antiarrítmicos. Além dos bloqueadores adrenérgicos já mencionados, podem ser usados diuréticos, vasodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio ou inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA). 

Em casos de tumores inoperáveis ou metastáticos, o tratamento paliativo pode ser realizado com medicamentos que inibem a síntese ou a liberação das catecolaminas, como os inibidores da tirosina hidroxilase  ou os inibidores da monoamina oxidase. Outras modalidades terapêuticas que podem ser consideradas são a quimioterapia, a radioterapia e a embolização arterial.

Qual é o prognóstico do feocromocitoma em cães?

O prognóstico do feocromocitoma em cães depende de vários fatores, como o tamanho, a localização, a funcionalidade, a invasividade e a presença de metástases do tumor. Em geral, o prognóstico é reservado, pois muitos cães morrem antes do diagnóstico ou durante ou após a cirurgia. A sobrevida média relatada após a remoção cirúrgica do tumor é de cerca de 18 meses. Os fatores que podem influenciar negativamente o prognóstico são:

– Tumor bilateral
– Tumor extra-adrenal
– Tumor maior que 5 cm
– Tumor invasivo ou metastático
– Hipertensão grave ou refratária
– Insuficiência renal

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