28 de abril de 2025

Cancelado em 2023, formato digital do Enem expôs limitações de infraestrutura e adesão, apesar de avanços tecnológicos e ambientais

Lançado em 2020, o Enem Digital foi uma das iniciativas do governo para modernizar o principal exame de acesso ao ensino superior no Brasil. O modelo surgiu em meio ao contexto da pandemia da Covid-19, com o objetivo de reduzir aglomerações e oferecer uma alternativa mais segura diante das restrições sanitárias daquele período.

A proposta digital também respondia à necessidade de modernização do sistema avaliativo nacional. Era uma tentativa de inserir o Enem em uma lógica mais próxima das tecnologias educacionais já utilizadas em outros países. No entanto, a organização cancelou o formato em 2023, três anos depois, sem previsão de retorno.

Vantagens que não sustentaram a mudança

O formato digital apresentava diversas vantagens. Entre elas, a promessa de maior agilidade na correção das provas, além da economia com papel e logística. Havia também a expectativa de que o modelo se tornasse mais seguro, já que as provas variavam de computador para computador, o que dificultava vazamentos.

Em longo prazo, a proposta previa uma prova mais dinâmica, com uso de recursos interativos e tecnológicos que poderiam melhorar a experiência do candidato. Mesmo com esses potenciais ganhos, o modelo enfrentou limitações práticas que impediram sua consolidação como uma alternativa viável ao formato impresso.

Por que o Enem digital fracassou

Apesar das vantagens, o Enem Digital enfrentou dificuldades logo nos primeiros anos de aplicação. A baixa adesão foi um dos principais entraves: em 2022, foram oferecidas 100 mil vagas, mas apenas cerca de 30 mil estudantes compareceram. Isso resultou em um custo muito superior ao da versão impressa.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), enquanto o Enem tradicional custava cerca de R$ 160 por participante, a versão digital chegou a custar mais de R$ 860. A diferença foi considerada inviável para o orçamento público, o que levou à descontinuação da iniciativa pelo Inep em 2023.

Desafios de infraestrutura e acessibilidade

A infraestrutura dos locais de aplicação também impôs dificuldades. Em muitas regiões, as escolas não dispunham de computadores adequados nem de conexão estável com a internet. Em alguns casos, foram registradas falhas técnicas durante a prova, como travamentos e interrupções, o que comprometeu a experiência dos participantes.

Outro fator decisivo foi a desigualdade digital. Em áreas rurais e periferias urbanas, muitos estudantes não tinham acesso facilitado a equipamentos e tampouco estavam familiarizados com avaliações em ambiente virtual, o que ampliou a sensação de desvantagem em relação a candidatos mais conectados.

Além disso, o formato digital não contava com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual ou motora, o que limitava a participação desse público. Além disso, a organização também proibiu a participação dos chamados “treineiros” – estudantes que ainda não concluíram o ensino médio, mas tradicionalmente fazem o exame como forma de preparação.

Como funcionou o enem e o cálculo das notas

Mesmo no formato digital, o Enem manteve a estrutura tradicional e seguiu utilizando a Teoria de Resposta ao Item (TRI) para calcular as notas. Esse método avalia a coerência dos acertos de acordo com o nível de dificuldade das questões, o que reduz a possibilidade de altas pontuações obtidas por meio de chutes.

Por ser um sistema complexo, a TRI costuma gerar dúvidas entre os candidatos. Nesse cenário, ferramentas como a calculadora da nota do Enem se tornaram aliadas importantes, permitindo que os estudantes simulem seu desempenho e compreendam melhor como a pontuação é atribuída, seja na versão impressa ou digital da prova.

O fim do Enem Digital revelou que, apesar da importância da inovação, mudanças estruturais na educação exigem planejamento robusto e políticas públicas de inclusão digital. A tentativa, embora interrompida, trouxe aprendizados sobre os limites e as possibilidades da digitalização no ensino.